Mudando a Cena: Experiências nas oficinas de Teatro no CPCA

Institucional

Mudando a Cena: Experiências nas oficinas de Teatro no CPCA

É experiência aquilo que “nos passa”, ou que nos toca, ou que nos acontece, e ao nos passar, nos forma e nos transforma. Somente o sujeito da experiência está, portanto, aberto a sua própria transformação.

Larrosa Bondía

 

Durante esse quase ano e meio que tenho trabalhado como Técnico Educador Social de Teatro no Centro de Promoção da Criança e do Adolescente eu tenho percebido que é no campo das micro-políticas que tenho podido contribuir contundentemente. Todo corpo é um corpo político porque foi e é moldado de acordo com o meio social em que vive. Podemos dizer, assim que são muitos atravessamentos que estão presentes na composição da identidade de um corpo e como ele se comunica:  Sociabilidade, fluxos no território, acesso a alimentação de boa qualidade, acesso a atendimento de saúde, enfim. Podemos dizer, em outras palavras, que o acesso (ou não) aos direitos básicos também formam um corpo.

As experiências do teatro político da segunda metade do século XX no Brasil, contribuíram diretamente para a construção de um fazer teatral que estivesse ligado a um ideal de transformação social: os teatros de agitação e propaganda dos Centros Populares de Cultura ligados à UNE, a representação Épica do Teatro de Arena e a implementação Sistema Coringa de representação, a maravilhosa experiência do Teatro Popular União e Olho Vivo e sua tática Robin Hood. Todas essas experiências foram muito ricas, foram e são uma ferramenta potente contra elitização das manifestações teatrais. Foram as experiências do Teatro do Oprimido, porém, que alargaram as possibilidades de implementação de um teatro que servisse como instrumento de discussão social. Dentro da pedagogia do Teatro Imagem, por exemplo, são inúmeras as possibilidades de alargamento do repertório sensível dos participantes, através de exercícios que buscam potencializar a sensibilidade esquecida ou enterrada pelo cotidiano.  Serie de exercícios de massagem, aquecimento de olhar periférico, serie de exercícios que buscam contribuir para a criação de indenidade de grupo e muitos outros.

Tenho percebido que a Oficina de Teatro tem contribuído para a desmecanização da expressão dos participantes. Quando aprendemos, juntos, que podemos pegar a mão de outrem de forma respeitosa, quando podemos cantar ou dançar coletivamente, podemos respirar em outro tempo, o corpo reaprende a ser coletivo, volta a se relacionar com os sentidos de forma mais clara e organizada e esse processo de entender melhor a nós mesmos nos ajuda a entender melhor sobre os outros. É através deste processo de borrar fronteiras sensíveis que tem acontecido as pequenas grandes transformações no nosso percurso no CPCA, reforçando, na prática, o que disse Boal sobre as possibilidades do Teatro do Oprimido:

Creio que o Teatro deve trazer felicidade. Deve ajudar-nos a conhecer a nós mesmos e nosso tempo. O nosso desejo é o de melhor conhecer o mundo que habitamos para poder transformá-lo da melhor forma. O teatro é uma forma de conhecimento e deve ser também um meio de ajudar a transformar a sociedade.

Os resultados percebidos até agora com nosso Teatro no CPCA são apenas o início de uma jornada que deve vislumbrar, em longo prazo, que esses corpos desmecanizados possam ser capazes de deter seus próprios meios de produção Teatral. Ou ainda, em longo prazo esse empoderamento deve contribuir para mudança de paradigma construindo caminhos para que os jovens passem a ser sujeitos protagonistas de sua produção cultural. Utilizando o teatro como ferramenta para construir possibilidades de desfecho que aponta para a mudança real e o futuro passe a contar com o plano ideal. São as oficinas de Teatro na Lomba do Pinheiro contribuindo para um recontar da história, contribuindo para uma espécie qualquer de mudança de cena. Desculpem o transtorno. Estamos trabalhando para nos tornar protagonistas de nossas próprias histórias.

Não basta consumir cultura cultua. É necessário produzi-la. Não basta gozar arte. É necessário ser artista. Não basta produzir idéias. É necessário transformá-las em atos sociais concretos e cotidianos.

Robson Reinoso
Técnico Educador Social de Teatro – Ator

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