No dia 25 de outubro comemora-se no Brasil o Dia da Democracia. A data foi escolhida devido a um episódio histórico no Brasil que representa um marco nos limites de um regime não democrático: o assassinato do jornalista Vladimir Herzog em 1975.
Às vésperas de um segundo turno eleitoral no qual iremos escolher a quem daremos o voto de confiança para governar o Brasil nos próximos 4 anos, refletirmos sobre o que é a democracia é um dever de todos(as) nós. Talvez o tema gerador que tenha de nos guiar nessa reflexão esteja um pouco equivocado. Talvez não tenhamos que nos perguntar o que é a democracia, mas o que deve ser, ou ainda, o que pode ser uma organização social democrática que garanta nossas aspirações individuais e coletivas de bem viver em sociedade e quais as condições mínimas necessárias para que, de fato, todos(as) se sintam contemplados(as), participantes e corresponsáveis pela sua manutenção.
Nesse sentido, compreender a democracia apenas como um método de escolhas, seja de que assunto for, ou de representantes políticos, como no caso das eleições, ou como uma estratégia de resolução não violenta de discordâncias, ou, ainda, como uma forma de produzir consensos mínimos entre muitas pessoas com valores sociais, ideais de vida e de sociedade diferentes, por vezes incompatíveis, é reduzir muito o que deve/pode ser a democracia.
A democracia deve ser uma construção social constante, ela deve ser um princípio normativo, um valor, que oriente todas as nossas relações sociais, com as outras pessoas e com o espaço que ocupamos, seja esse espaço a família, o grupo de amigos(as), a escola, locais de práticas religiosas (sejam elas quais forem), o trabalho, a comunidade em que moramos, etc. Ter uma postura democrática é assumir que todos(as) têm o direito de planejar, individual e coletivamente, o seu bem viver, e realizar as ações necessárias para que esse bem viver se realize, com o único critério de que a realização do meu projeto de vida não seja impeditivo do bem viver das demais pessoas, em nenhum sentido. É tomar o diálogo, o debate público e respeitoso de compreensões de como deve ser o mundo, como recurso habitual para o entendimento de que nem todos(as) serão iguais a mim, nem em corpo, nem em comportamento e muito menos em valores, e que devemos elaborar coletivamente maneiras para a convivência dessas diferenças. Uma postura democrática exige a compreensão de que toda a experiência pessoal, particular, é, em boa medida, resultado de condições desiguais impostas coletivamente pela nossa organização social. E é aí que entramos na questão das condições para uma vivência democrática qualitativamente boa para todos(as).
Continuamos a ser uma país onde moradia, educação, saúde, cultura e lazer não são direitos de todos, e sim privilégios de alguns. Acreditamos que não há democracia plena e de qualidade quando as pessoas não têm acesso equânime a educação crítica e de qualidade, acesso à saúde, acesso à justiça, ao lazer, a renda mínima, a uma experiência de trabalho formal que lhe possibilite desenvolvimento social e profissional que gere verdadeira autonomia e emancipação, bem como segurança, autoconfiança e autoestima para projetar a vida a médio e longo prazo. Por isso, construir o CPCA diariamente é, também, construir a democracia, ou as possibilidades para que ela ocorra.
A democracia é uma construção constante e, assim como o ser humano, tem a vocação ontológica de ser mais (FREIRE, 1997). Lutemos por ela.
REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática pedagógica. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.
Bruna Rossi Koerich, mestre em Ciências Sociais e coordenadora no CPCA.
Maurício Mayora Alves, graduando em Ciências Sociais e educador técnico administrativo no CPCA.
Santiago Pavani Dias, mestre em Ciências Sociais e técnico social no CPCA, eixo Socioprofissional.