“Em 1992 um grupo de mulheres negras, na busca por acolhimento, escuta e voz se reuniram em Santo Domingo, capital da República Dominicana, para o que seria o primeiro I Encontro de Mulheres Afro-Latinas e Afro-Caribenhas. Esse Encontro surgiu pelo reconhecimento de que, por mais que sejamos tod@s seres human@s (biologicamente homens e mulheres), e todas as mulheres vivam situações muito parecidas (negras e não negras), há diferenças.
Como o racismo e o machismo atinge as mulheres negras? Como lutar contra ambos? Uma das ações pra iniciar essa luta foi reconhecer a particularidade que é ser uma mulher negra na América Latina e Caribe criando um dia para reflexão a esse respeito, resultado do próprio encontro. Esse dia foi batizado como dia da Mulher Negra Latina e Caribenha e em 1992 mesmo a ONU (Organização das Nações Unidas) reconheceu a data e a partir de então vários países incluíram em suas agendas oficiais o dia.
Não. Não é um dia pensado para festas. Não é um dia pra demonstrar superioridade das mulheres negras em relação as outras pessoas. É um dia pra refletir acerca de males que atingem esse grupo em específico e talvez sim, comemorar as vitórias nessa luta. Nesses países se encontram os maiores índices de feminicídio contra mulheres negras. Aqui no Brasil, somente em 2014, a data foi incluída no calendário nacional como Dia Nacional de Tereza Benguela e da Mulher Negra.
E o que mulheres negras tem em comum? Há dados que comprovam que são as que recebem os menores salários. Também há dados que mostram que são as que mais sofrem violência obstétrica. Enquanto a taxa de assassinatos de mulheres brancas vem diminuindo nos últimos anos, o mesmo índice segue crescendo entre a população de mulheres negras… E um dos dados doloridos indiretos (?), elas são as mães e familiares destes jovens negros de 15 a 29 anos que mais morrem no país.
Dados e mais dados disponíveis há algum tempo, mas que não geram necessariamente empatia… Ser mulher e negra exige uma luta constante, inclusive contra uma cultura que também forjou nosso eu. Quanto mais escuro o tom da pele, menos essas mulheres se vêem na mídia, menos relacionamentos duradouros acontecem, menos a média das pessoas vê beleza ou confia em suas habilidades… Será mesmo assistente social? Será mesmo psicóloga? Será mesmo professora? E se for, será que é boa? Dúvida que a nós mesmo perpassa (na luta árdua por autoestima) no dia a dia de garantia de direitos, lugar, reconhecimento.
Buscamos equidade, respeito à nossa cultura, valorização de nossos traços e formas… Resultado desta batalha de muitas de nós, é um hoje em que nossas meninas estão cada vez mais conscientes de sua beleza, cada vez compreendendo mais seus cachos e seus crespos! Há mais exemplos de caminhos possíveis cavados na representatividade. Temos médicas, arquitetas, esteticistas, motoristas, professoras, artesãs, dançarinas… Licenciadas, bachareladas, especialistas, mestras e doutoras… Temos Dandaras, Marielles, Terezas, e muitas mais. Assassinadas, torturadas, silenciadas… Mas a partir de então, nunca mais esquecidas. E nos dias 25 de julho, em todos os eventos e protestos agendados, a mensagem que salta aos olhos: RESISTIREMOS!”
Fernanda Francisca da Silva
Coordenadora Político Pedagógica