A GUERRA CONTRA AS DROGAS É UMA GUERRA CONTRA QUEM?

Institucional

A GUERRA CONTRA AS DROGAS É UMA GUERRA CONTRA QUEM?

Antes de pensarmos sobre o uso de substâncias psicoativas nos dias de hoje, é importante analisarmos como, historicamente, a sociedade vem se relacionando com as drogas. Não há um marco de iniciação ao uso de substâncias psicoativas por humanos, mas os registros de uso são quase tão antigos quanto a própria história da humanidade.

No caso específico da maconha, seu uso medicinal data de 2.700 a.C. e nos séculos XVIII e XIX era largamente utilizada com proposito curativo.  No Brasil, ela foi introduzida pelas pessoas escravizadas e difundida entre os indígenas, sendo consumida também nas atividades recreativas. No século XX, já havia distinção entre “vícios elegantes” e “vícios deselegantes”: a cocaína, a morfina e a heroína, devido a situação econômica e social dos seus usuários, ganhavam o status de elegância, enquanto a maconha e o álcool eram vistos como substancias degeneradas. Desde seu início, o tabu sobre o uso de drogas, esteve muito mais ligado ao estigma de determinadas classes sociais, do que propriamente a uma questão de saúde pública.

No documentário de Ava DuVarnay, 13ª Emenda (2016), são expostas gravações em que um dos assessores de Nixon (presidente dos EUA de 1969 a 1974) diz que a dita “Guerra às drogas” era uma forma que o governo havia encontrado para prender pessoas negras.  Não é à toa que este embate foi travado no momento em que a luta pelos direitos civis das pessoas negras estava em um de seus ápices. Seja nos Estados Unidos, na Europa ou Brasil, a questão sobre o direito ao uso de substâncias psicoativas sempre esteve diretamente relacionado a questões raciais e de classe.

Quando pensamos em uso de substancias psicoativas no contexto da juventude brasileira, os determinantes sociais são ainda mais cruciais. Temos em nosso país um extermínio da juventude negra. O Atlas da Violência, divulgado ainda este ano, nos traz dados chocantes, como o fato de 33.590 jovens foram assassinados apenas no ano de 2016. E, apensar de na década de 2006 a 2016 a taxa de homicídio de pessoas não negras ter reduzido 6,8%, a de pessoas negras cresceu 23,1%. Ser jovem e negro em nosso país acaba se tornando difícil e perigoso. Se o jovem optar por usar algum tipo de substância, ou, por algum motivo, não conseguir ficar sem usar, sua perspectiva de vida torna-se ainda mais frágil.

Através da perspectiva da Redução de Danos, o foco não passa por julgar a escolha da pessoa, mas sim em, primeiramente, reduzir as consequências adversas para a saúde, sociais e econômicas causadas pelo uso da(s) substância(s). Quando pensamos na juventude que faz uso de alguma substância psicoativa, precisamos ter um olhar calcado nos Direitos Humanos e na garantia de proteção e acesso aos direitos daquele sujeito. Essa abordagem, necessita de uma visão ampla e integral do jovem, que não pode entender seu uso de forma isolada, contaminada pelo estigma internalizado e a criminalização rígida –  a proteção do jovem deve estar elencada como prioridade. Entender a questão do uso de drogas através de uma perspectiva da saúde e não como um caso de polícia, permite que criemos uma intervenção mais protetiva e propositiva.

Escrito por Cristiane Amaral, formada em psicologia, atualmente educadora Social no CJ da Lomba do Pinheiro

Leia Também

Visita ao acampamento farroupilha

As comemorações da semana Farroupilha, foi vivenciada de maneira intensa e divertida pelas crianças e adolescentes do Cetro de Promoção da Criança e do Adolescente